Em casa, depois de um dia cansativo
de trabalho, minha mãe e eu estávamos no sofá da sala, assistindo a um
documentário em DVD - um desses sobre a violência do homem contra a natureza.
Olhei o relógio, já contando os
minutos para cair na cama e descansar. Eram oito e trinta e cinco. As
pálpebras quase se fechando, quando o meu celular tocou e, antes que eu
terminasse o monossílabo oi, uma mulher do outro lado da linha, em tom exaltado
e ameaçador, pergunta-me: “Foi você?”
Sem entender absolutamente nada,
gastei alguns segundos verificando em minha mente se acontecera algum momento
crítico, durante o dia, que motivasse tal questionamento; nada recordei.
Pensei em perguntar quem era e do
quê se tratava, mas, antes que eu pronunciasse a primeira sílaba da palavra
“senhora”, a mulher mandou que eu calasse, pois iria falar tudo o que ela
desejava, disse ela.
Tentei replicar, na tentativa de que
ela me ouvisse. Frustrei-me. Ela continuou a esbravejar e a falar sobre um
relacionamento, traições e cartas enviadas ao suposto amor da vida dela,
contando sobre suas peripécias amorosas; coisas sem nexo algum para mim.
Tapando o microfone do celular com
uma das mãos, respondi à minha mãe que eu não sabia quem era, quando
questionado por ela. Fui orientado a desligar o celular. No entanto, resolvi
ouvir mais um pouco, e ver aonde iria chegar a ladainha daquela desconhecida
que, no mínimo, estava perturbada.
Passaram-se
vinte minutos e a mulher continuava a “berrar” ao celular. Todas as minhas
interpelações foram malfadadas, porquanto ela não me dava nenhuma chance de ao
menos pronunciar duas sílabas.
Enfim,
calou-se. Passaram-se, ao todo, trinta e cinco minutos. Eu continuava calado.
Pasmo. Mudo. Demoraram alguns segundos e, como não falei absolutamente nada,
ela disse em tom debochado: “NÃO VAI FALAR NADA!?” Ao que respondi: “Minha
senhora, sou Armando Henrique. E a senhora, quem é?”...
Nada
me respondeu. Desligou o celular na minha cara. Antes, pude escutar bem
baixinho: “Ai, meu Deus! Que vergonha!”
Autor: Osiel Ferreira
Autor: Osiel Ferreira
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