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sábado, 26 de abril de 2014

OLHOS DE UM CEGO

         Segunda-feira, por volta das cinco e meia da tarde, eu caminhava pela rua Coriolano Milhomem. A rua já mostrava um movimento frenético de carros para lá e para cá, visto que as pessoas retornavam de mais uma jornada de trabalho.
         Ao atravessar a rua, vi um cego ao meu lado, com uma bengala que ele segurava erguida e um cachorrinho ao colo. O cego atravessou a rua tranquilamente, sem se importar com os veículos que ali circulavam.
         Seus passos firmes pareciam os de uma pessoa com dois olhos perfeitos e uma percepção aguçada.
         Após atravessar a rua, o cego continuou sua caminhada. Resolvi acompanhá-lo, para conseguir entender como um cego conseguia locomover-se daquela forma, e isso sem usar sequer a muleta.
         Nenhum buraco ou desnível da rua atrapalhava os passos do cego. Ele, com os olhos fechados, desviava-se de um buraco aqui, pulava uma poça acolá. Caminhava incrivelmente bem.
         Notei que a cada obstáculo vencido o cego aconchegava o cachorrinho e lhe dizia:
_ Muito bem, amiguinho!
         Curioso, aproximei-me. Examinei-lhe e, depois de vencer minha relutância, questionei-lhe como ele andava tão perfeitamente. Ao que ele respondeu:

_Totó nasceu sem olhos; emprestei-lhe os meus.

Autor: Osiel Ferreira