OLHOS
DE UM CEGO
Segunda-feira, por volta das cinco e meia da tarde, eu
caminhava pela rua Coriolano Milhomem. A rua já mostrava um movimento frenético
de carros para lá e para cá, visto que as pessoas retornavam de mais uma
jornada de trabalho.
Ao atravessar a rua, vi um cego ao meu lado, com uma bengala
que ele segurava erguida e um cachorrinho ao colo. O cego atravessou a rua
tranquilamente, sem se importar com os veículos que ali circulavam.
Seus passos firmes pareciam os de uma pessoa com dois olhos
perfeitos e uma percepção aguçada.
Após atravessar a rua, o cego continuou sua caminhada.
Resolvi acompanhá-lo, para conseguir entender como um cego conseguia
locomover-se daquela forma, e isso sem usar sequer a muleta.
Nenhum buraco ou desnível da rua atrapalhava os passos do
cego. Ele, com os olhos fechados, desviava-se de um buraco aqui, pulava uma
poça acolá. Caminhava incrivelmente bem.
Notei que a cada obstáculo vencido o cego aconchegava o
cachorrinho e lhe dizia:
_ Muito bem, amiguinho!
Curioso, aproximei-me. Examinei-lhe e, depois de vencer
minha relutância, questionei-lhe como ele andava tão perfeitamente. Ao que ele
respondeu:
_Totó nasceu sem olhos;
emprestei-lhe os meus.
Autor: Osiel Ferreira
Autor: Osiel Ferreira